sexta-feira, outubro 11, 2013

“Eu não admitia que jogador nenhum passasse por mim”. Dedo indicador em riste e o cabelo tingido pra esconder a idade, ele metia medo. “Se passasse uma vez, a partida já estava por água abaixo”.
Era daqueles zagueiros tão convictos da sua missão no mundo que tinha dado o primeiro chutão ainda na barriga da mãe. “Meu jogo podia não ser bonito, mas era digno”.
Naquele domingo foi diferente. Quando o camisa 7 passou mais liso que deputado em CPI por sua marcação, um silêncio de cemitério assolou o estádio e até a torcida adversária custou a acreditar.
Na segunda vez, sangue nos olhos e do pescoço pra baixo é canela, ele tomou a bola. “Aí começou a briga de gato e rato. Ele passava uma, eu tomava outra. Ele passou uma e eu disse: a próxima é minha. Ele passou…”
Ninguém queria saber de gol. O duelo na ponta direita que importava. O atacante recebeu a bola mais uma vez e todos os corações do mundo voltaram-se pra ele. Os olhos do zagueiro soltavam faíscas. “Quando ele passou, dei um carrinho. Ele caiu. O que é que eu fiz? Botei o pé em cima da bola e cruzei os braços. A torcida foi à loucura”. Ele refaz o ruído ensudercedor que ecoa pelas arquibancadas até hoje. “Porque senão o cabra ia me desmoralizar. Ele era muito bom, rapaz. Muito bom”. (Thales Gomes)