quarta-feira, junho 09, 2010

X9 2

Ele vive infiltrado nas rodas da malandragem, na salinha do café, sempre espreitando, fingindo-se de malandro também. O seu trabalho é um só: cagüetar, endedar, engessar, falar, entregar, dar o serviço, atraiçoar aquêles de quem se faz companheiro. Contar à polícia tudo o que viu entre os malandros. É uma profissão suja e perigosa, que êle exerce para viver em paz com a lei e ter livre trânsito no mundo do crime. Um mundo onde não existe maior ofensa do que a palavra ca-güeta. Assim, maldito por todos os lados, êle é detestado pelos poderosos, que o usam mas não confiam nêle, e pelos malandros, que têm para êle um código: "Quem fala morre." Para os poderosos, é um mal necessário: "Êle ajuda, mas quem entrega de um lado pode entregar do outro." Para a malandragem, é um perigo: "Entrega até a mãe." Chacal, alcagüeta, ca-güete, cachorrinho, delator, informante, reservado, federal, engessador, falador, bôca mole, bôca de litro, dedo duro, são a mesma coisa. Êle não tem rosto. E até quando vai prêso é uma armadilha para os bandidos continuarem acreditando nêle. Por isso, quase tôda vez que um grupo de malandros cai nas mãos da poderosos, o homem que os entregou também está entre êles, apenas para despistar.

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